terça-feira, agosto 16, 2005

Texto do Dia


HEDONISMO(José A. Pimentel)

Eu li em um dos livros do Ruy Castro que, ainda mais legal do que unir o útil ao agradável, é unir o agradável ao agradável.

A exaltação do desfrute.Há tempos venho ruminando sobre isso.

Conheço muitas pessoas que vão ao cinema, a boates e restaurantes e parecem eternamente insatisfeitas. Até que li uma matéria com a escritora Chantal Thomas na revista República e ela elucidou minhas indagações internas com a seguinte frase: "Na sociedade moderna há muito lazer e pouco prazer".

Lazer e prazer são palavras que rimam e se assemelham no significado, mas não se substituem.É muito mais fácil conquistar o lazer do que o prazer. Lazer é assistir a um show, cuidar de um jardim, ouvir um disco, namorar, bater papo.
Lazer é tudo o que não é dever.
É uma desopilação.

Automaticamente, associamos isso com o prazer: se não estamos trabalhando, estamos nos divertindo.
Simplista demais.

Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando, é só redefinir o que é prazer.O prazer não está em dedicar um tempo programado para o ócio.O prazer é residente.Está dentro de nós, na maneira como a gente se relaciona com o mundo.

Chantal Thomas aborda a idéia de que o turismo, hoje, tem sido mais uma imposição cultural do que um prazer.As pessoas aglomeram-se em filas de museus e fazem reservas com meses de antecedência para ir comer no lugar da moda, pouco desfrutando disso tudo.

Como ela diz, temos solicitações culturais em demasia.É quase uma obrigação você consumir o que está em evidência.E se é uma obrigação, ainda que ligeiramente inconsciente, não é um prazer.

Complemento dizendo que as pessoas estão fazendo turismo inclusive pelos sentimentos, passando rápido demais pelas experiências amorosas, entre elas o casamento.
Queremos provar um pouquinho de tudo, queremos ser felizes mediante uma novidade.
O ritmo é determinado pelas tendências de comportamento, que exigem uma apreensão veloz do universo.

Calma.

O prazer não está em ler uma revista, mas na sensação de estar aprendendo algo.
Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que ele pode lhe trazer.
Não está em faturar uma garota, mas no encontro das almas.
Está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos.
Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na contramão.
O prazer está em sentir.
Uma obviedade que merece ser resgatada antes que a gente comece a unir o útil com o útil, deixando o agradável...

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