sexta-feira, agosto 22, 2003

Estudo mostra que apetite específico em seres humanos, se dá por condicionamento

(Reuters) - Cientistas que treinaram voluntário a reagir como os cães de Pavlov a manteiga de amendoim e sorvete disseram nesta quinta-feira que exames por imagem do cérebro dessas pessoas ajudam a explicar por quê os seres humanos se fartam a refeição e ainda assim sempre acham espaço para a sobremesa.

Os voluntários foram condicionados a sentir fome quando vissem imagens abstratas determinadas, exatamente como os cães de Pavlov salivavam ao som de uma sineta, disseram os cientistas.

- Em vez de usar o sino e carne em pó, que é o que Pavlov usou originariamente, usamos imagens visuais com pouco significado intrínseco e as associamos ao aroma de alimentos - contou Jay Gottfried, do Departamento de Neurociência de Imagem da University College London.

Gottfried tentava explicar o que chama de "fenômeno-restaurante".

- Você se senta à mesa para sua refeição de oito porções para comemorar seu aniversário, passa por todos os aperitivos e entradas e quando você pensa que não cabe mais nada no estômago, eles trazem o menu de sobremesa ou o carrinho com as sobremesas e, de repente, você descobre que tem um canto para aquele fondant de chocolate - descreveu Gottfried. - Isso é saciedade específica. Você está farto de uma coisa, mas não de outra.

O fenômeno ajuda a explicar por que tantas dietas fracassam, mas também lança luz o funcionamento do cérebro. Gottfried, que relata suas descobertas na edição desta semana da revista "Science", disse que queria descobrir como o cérebro aprende.

- Queríamos procurar regiões no cérebro que mostrassem atividade menor, do momento anterior à alimentação ao posterior.

Os 13 voluntários passaram por exames de ressonância magnética funcional - um modo de assistir "ao vivo" o cérebro funcionando - enquanto faziam o que pensavam ser apenas tarefas de computador banais.

Gottfried e sua equipe mostraram a eles imagens abstratas geradas por computador enquanto lançava no ar o aroma de sorvete de baunilha ou de manteiga de amendoim.

- Em vários pontos antes, durante e depois do exame, pedimos a eles que dessem notas ao prazer despertado pelos aromas - disse Gottfried.

Inconscientemente, os voluntários começaram a associar as imagens aos aromas.

Em seguida, eles comeram uma porção de sorvete de baunilha ou manteiga de amendoim.

A imagem de seus cérebros foi gravada novamente e mostrou que a forte resposta emocional dos voluntários ao aroma diminuiu depois de consumiram o alimento correspondente.

A resposta ao odor de manteiga de amendoim mudava depois de se consumir o alimento, mas o aroma do sorvete de baunilha acendia o cérebro novamente. Com o passar do tempo, a imagem correspondente ao aroma do sorvete passou a evocar reações, mas, novamente, elas diminuíam depois do consumo da guloseima.

Gottfried disse que circuitos específicos do cérebro estão envolvidos no processo. Os pesquisadores descobriram alto grau de envolvimento da amídala, área mais conhecida pelo processamento de emoções, o córtex orbitofrontal.

O pesquisador, explicou, porém, que o ser humano parece ter desenvolvido defesas contra o condicionamento.

- Se toda vez que você passasse pelo McDonald's e visse os arcos dourados, você se sentisse competido a entrar e comer um Big Mac isso seria destrutivo depois de um certo tempo.

Algo, então, precisa dizer ao cérebro quando responder e quando não responder - e isso não necessariamente se restringe à comida.

- Estejamos nós falando de comida, ou sexo ou até coisas na escala da aversão como perigos e ameaças e predadores, o cérebro também precisa saber como se atualizar e modular essas associações para que você não fique preso como em um cio.

O cientista russo Ivan Pavlov (1849-1936), ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 1904, ganhou fama por seus estudos do chamado reflexo condicionado ou condicionamento clássico em animais.

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